Sexualidade: aspectos hormonais, comportamentais e impactos no bem-estar

Sexualidade: aspectos hormonais, comportamentais e impactos no bem-estar
Dr. José Antonio Leprevost Neto – CRM 8925-PR | RQE 2357

Muitas vezes, ouvi de colegas que a solução para as queixas sexuais seria simplesmente prescrever testosterona. Essa ainda parece ser a opinião predominante, inclusive entre ginecologistas e urologistas, especialmente entre médicos mais jovens, devido à recente “glamorização” dos hormônios. Após décadas de marginalização das terapias hormonais, estamos testemunhando uma avalanche de prescrições indiscriminadas dessas substâncias. Frequentemente, isso ocorre sem bases fisiológicas adequadas, o que pode indicar duas coisas: conhecimento superficial ou, infelizmente, interesses comerciais. O que me motivou a realizar esta revisão foi explicar a sexualidade e suas dimensões, com suas bases teóricas e filosóficas, dar a real dimensão às terapias hormonais e relatar as outras abordagens terapêuticas, muitas vezes mais efetivas. Assim, compartilho meus conhecimentos e minha experiência como ginecologista de formação, pós-graduado em Longevidade Saudável e pós-graduado em Sexologia. Por que o tema sexualidade humana é tão complexo? O comportamento sexual é inerente a todas as espécies animais sexuadas e é basicamente automático. No entanto, no Homo sapiens, o comportamento sexual envolve fatores adicionais, como emoções, valores, conflitos, hormônios e metabolismo, tornando-o extremamente multifatorial. A humanidade criou cultura e valores, o que nos fez migrar de um comportamento inato e natural, orientado por instintos, para a submissão às normas indispensáveis à vida em sociedade. Dessa adaptação necessária surgem repressões, condicionamentos, crenças, tabus e sofrimento, pois o cérebro humano, assim como o de qualquer animal, foi moldado para a sobrevivência e para seguir seus instintos, e não para resolver conflitos. Muitas das queixas sexuais talvez não existissem se as pessoas, homens e mulheres, pudessem desenvolver sua sexualidade de forma adequada, saudável, socialmente aceita, equitativa e sem repressões infundadas. As civilizações sempre tiveram que criar códigos de conduta para a convivência entre pessoas com aspirações diferentes, o que provavelmente incluiu o tema das manifestações sexuais. As religiões e convenções sociais (sem emitir juízo de valor) têm sido usadas como instrumentos de limitação e repressão em diversos graus. As mulheres, principalmente, têm sua sexualidade e suas manifestações condenadas, castigadas e, muitas vezes, mutiladas ao longo da história… e ainda o são em algumas culturas. No mundo ocidental, mudanças significativas ocorreram apenas a partir do final do século XIX e início do século XX, devido aos movimentos culturais relacionados à modernidade e às revoluções tecnológicas, moldando comportamentos, como na Belle Époque. Os questionamentos sobre o papel da mulher na sociedade iniciaram um longo e árduo caminho para dar alguma voz à sexualidade feminina. Isso se aplica a todos aqueles que ousaram, ou ousam, agir ou ter uma orientação de comportamento divergente do padrão binário, e que só recentemente têm experimentado alguma liberdade. O tema sexualidade é permeado de tabus em nossa sociedade, geralmente devido à ignorância intelectual, que aprisiona mentes e corações. Sexualidade não é erotismo ou pornografia, embora essas ferramentas possam ser úteis para sua expressão. Não é nosso papel, como profissionais da saúde, julgar ou emitir juízos de valor em relação aos relatos do paciente. A sexualidade vai além do sexo e jamais está limitada a ele. A sexualidade de um indivíduo é construída ao longo de sua vida e, na verdade, desde antes do seu nascimento, conforme as exposições sofridas na vida intrauterina, como veremos em alguns pontos deste livro. Querendo ou não, a sexualidade está entremeada em nossas vidas, na filosofia, na moda, na linguagem, na arte, na cultura, na arquitetura, enfim, em todas as áreas das manifestações humanas. Ela faz parte do comportamento humano, mesmo quando é negada. Dessa forma, também está presente em nossos consultórios, mesmo que, por dificuldades pessoais ou profissionais, como a falta de preparo, não abordemos o tema. Se o profissional faz de conta que seu paciente é assexuado ou evita o assunto, ele é um profissional limitado. Não pode considerar que cuida integralmente da saúde de seu cliente. Como todo conhecimento, devemos iniciar nosso aprendizado com conceitos básicos, como as três dimensões da sexualidade: a biológica, que compõe a norma funcional e orgânica do corpo e cujo desequilíbrio gera o que chamamos de disfunção sexual; a sociocultural, que observa os valores coletivos e culturais da sexualidade, nomeando as inconformidades como desvios sexuais; e a psicológica, influenciada pelas normas pessoais e valores individuais, que norteiam os comportamentos sexuais, definindo suas insatisfações como inadequação sexual. Assim, observaremos com cuidado as diferenças entre os desvios, as disfunções e as inadequações, focando nossa área de estudo nesses dois últimos aspectos e distinguindo as diferentes maneiras que essas discrepâncias se manifestam entre os sexos feminino e masculino. Para isso, trabalharemos com uma abordagem fisiológica, levando em consideração os neurotransmissores e hormônios envolvidos no desejo sexual, e seus fatores interferentes. Também abordaremos questões de psicoterapia e seus modelos clínicos mais eficientes e básicos para tratar as inadequações e, por consequência, as disfunções que as originam, sempre considerando as diferentes necessidades de cada sexo. Vamos caminhar juntos nessa jornada pela sexualidade humana. Precisamos entender conceitos e critérios, discutir ferramentas seguras que permitam lidar com as queixas sexuais, eliminar crenças e tabus sem fundamentos e aprender a entender a fisiologia da sexualidade. Vamos ainda discutir a entrevista e o aconselhamento breves em consultório e revisar as queixas sexuais femininas e masculinas, suas terapias hormonais e outros tratamentos. Para entendermos realmente o sofrimento de quem nos procura e auxiliá-los de forma eficaz, devemos buscar as melhores ferramentas e o conhecimento científico. Crenças e convicções são a antítese do verdadeiro conhecimento. Obviamente, não pretendemos esgotar o tema, sobre o qual centenas de obras foram escritas, mas desejamos despertar no leitor o desejo de estudar mais e fazer mais pelos seus pacientes.

Dr. José Antonio Leveprost Neto – CRM 8925-PR | RQE 2357